sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Comportamento



A família e o sono das crianças



“Por que tenho que ensinar o bebê a dormir, será que ele não fecha os olhos e dorme quando está com sono?”. Esse questionamento é muito comum entre os pais e mães de recém-nascidos e, talvez, uma das maiores surpresas desse período seja descobrir que o bebê precisa de ajuda para entender que chegou a hora de relaxar.

Nos bebês, o período de sono é mais longo e diferente do que ocorre nas outras etapas da vida, sendo comum que os pais percebam seus filhos ativos, expressivos e emitindo sons, mesmo adormecidos. Como o processo de inibição das atividades motoras ainda está em fase de amadurecimento, os pequenos podem produzir grande variedade de movimentos e expressões faciais, incluindo sorrisos, caretas, gritos e até mesmo frases.

Mas o sono não pode ser encarado apenas pelo lado fisiológico e a forma como a rotina noturna das crianças é conduzida tem um forte componente cultural, fazendo com que sobrem polêmicas. Alguns são a favor de deixar o bebê chorando no berço para ele aprender a dormir só, prática divulgada no livro espanhol Nana, Nenê (Ed. Martins Fontes), de Eduard Stivill e Sylvia de Bejar. Enquanto outros são adeptos de idéias como as do livro Soluções Para Noites Sem Choro (editora M.Books), de Elisabeth Pantley, liberando a cama do casal para os filhos ou encontrando outra forma que agrade a família inteira.

Se aqui no Brasil, o mais aceito é que a criança tenha um quarto só para ela ou que o bebê durma em seu berço desde recém-nascido, em outros países é comum que pais e filhos compartilhem o mesmo espaço por muitos anos. Essa diferença fica clara no depoimento da paulistana Flávia Takamatsu, casada com o japonês Terumasa. Flávia vive no Japão desde abril de 2002 e se dedica a cuidar do filho Caio, atualmente com 2 anos e 10 meses de idade.

“Antes de o Caio nascer, achava que deveria tentar acostumar meu filho a dormir no próprio quarto o quanto antes, em seu bercinho. Não aceitava o fato de que no Japão, o mais comum é o filho dormir entre os pais até mais ou menos 6 anos, pois achava que isso criaria uma dependência muito grande. Só aceitei dormir no futon (edredon típico japonês) durante um período que passei na casa dos sogros, por não ter como levar o berço e a nossa cama para lá.

Quando voltamos para a nossa casa, tive que me virar de repente, cozinhar, lavar, passar, enfim, tudo que já fazia antes, mas sem o Caio. Senti-me perdida! Não conseguia organizar nada, nem cuidar direito do meu tesouro, que começou a trocar o dia pela noite. Nessa época conheci a comunidade no orkut, que debate as idéias do livro ‘Soluções para Noites sem Choro’, na qual fui muito bem acolhida e seguindo as dicas do livro, finalmente consegui implantar uma rotina para o Caio, fazendo com que o sono tivesse alguma regularidade.

A maternidade realmente nos modifica e com isso compreendi que deveria respeitar os anseios do filhote em querer ficar junto a mim e do meu marido, passando a adotar a cama-compartilhada. Fizemos as nossas adaptações, para chegar a um modelo de cama-compartilhada que fizesse o meu marido não ter o receio de machucar o filhote, caso ele dormisse entre nós. Como a proximidade facilitava a amamentação em livre-demanda, posicionamos o berço encostado e no mesmo nível que a nossa cama, porque moramos em uma região com o inverno muito rigoroso e seria inviável deixar o berço encostado na parede gelada. Durante o verão, dormimos no andar de baixo da casa, por fazer muito calor e termos ar-condicionado apenas no piso inferior. Então fazemos como os verdadeiros japoneses, com os seus edredons conjugados.

Hoje nosso filho tem quase 3 anos, continuamos com o berço acoplado à cama, mesmo ele não mamando mais nem acordando durante a noite e pensamos em acostumar o Caio ao próprio quarto quando a nossa nova casa ficar pronta, ainda no final deste ano. Em todo caso, nosso futuro quarto é grande o suficiente para que mais uma cama seja instalada e mais um bercinho, já que planejamos a chegada de uma irmã, ou irmão, para o Caio.

Acho que seguimos um meio-termo entre o método japonês e o brasileiro, japonês porque eles são adeptos a cama-compartilhada, ou futon-compartilhado, e o brasileiro que é o berço, além do quarto em conjunto, ao invés do quarto separado. Enfim, a mestiçagem deu um fruto perfeitamente adaptado.

Aqui no Japão, para que se crie um vínculo maior entre mãe e filho, a amamentação prolongada está sendo amplamente defendida e nada como o futon-compartilhado pra amamentar em livre-demanda, respeitando os ritmos e horários naturais do bebê.

Percebo que aprendi e ainda estou aprendendo a ser mãe aos poucos. Dessa forma, eu, que era tão contra a cama-compartilhada e quarto em conjunto, agora sou defensora ferrenha!”.





O sono é um assunto muito vasto e nas próximas semanas continuaremos abordando as várias nuances desse aspecto do comportamento dos pequenos, como a importância da rotina, o ninar e as sonecas do dia.


Texto: Sílvia Ribeiro Dantas

Fotos: Flávia e Caio Takamatsu

Cama-compartilhada da família Takamatsu

Caio dormindo no futon-compartilhado

3 comentários:

Anônimo disse...

Ai, que emocao!
Caiozi e eu estamos na midia!
Ficou muito bom, meninas!
Beijocas
Noises (Caiozi e mama-chan)

Anônimo disse...

Flazizi,
Adorei o seu depoimento!

Meninas,
Tô adorando o blog!

Beijinhos
Aninha

Ana Gisele da Silva Perez disse...

NOSSA DEPOIS DE LER ESSE DEPOIMENTO FIQUEI MAS TRANQUILA, PQ ESTOU EM UM DILEMA PRA FAZER MINHA FILHA DORMIR NO QUARTINHO DELA, ELA SÓ QUER DORMIR COMIGO.